Cuidado: Parte desse post é uma ficção. Quaisquer semelhanças com pessoas, lugares ou eventos da vida real é uma mera coincidência.
Tem um “causo” que é contado ao redor das fogueiras de acampamento de jovens professores, metidos a filósofos e sociólogos, que não é uma narrativa de terror, mas poderia ser.
Esse causo narra as desventuras de um pobre sujeito que vivia lá na mítica Idade Média, em um país qualquer da Europa pseudo-feudal, e que para ganhar a vida tentava ensinar os filhos dos nobres a ler, escrever e a contar.
Um sujeito muito viajado, esse da nossa estória (sic); muito sábio apesar dos seus trinta e poucos anos, vivia em uma determinada cidade somente durante algum tempo. Depois de alguns anos na mesma vila/castelo os pais de seus alunos sempre se cansavam de pagar alguém para ensinar seus filhos tarefas tão simples quanto ler e escrever e exigiam que o nosso quase-vassalo trabalhasse tendo como salário um punhado de comida e uma cama. Essa era a hora de cair na estrada outra vez, embalado por melodias dedilhadas em seu arqui-violão.
Diz a lenda que esse sujeito foi vítima de algum bruxo/mago/feiticeiro/etc e acabou sendo mandado através do intrincado tecido do continuum espaço-tempo até a nossa era, de uma forma que somente nossa imaginação poderia descrever.
Claro que o sujeito ficou mesmerizado pelo que viu: casas feitas de pedra, mas com formatos muito estranhos, tão altas quanto castelos; pedaços de metal com rodas de borracha que carregavam seres humanos aparentemente comuns por estradas feitas de cimento preto; pessoas com roupas estranhas, coladas ao corpo, e até pessoas praticamente sem roupa, coisa que em sua distante época era um sinal de extrema pobreza; e muitas outras incongruências que nosso personagem teve que aceitar à força.
Encontrou algumas pessoas fisicamente semelhantes a ele, com roupas velhas, barba por fazer e diversos banhos atrasados. Conversando com algumas delas descobriu que nesse sonho estranho (ano de nosso Senhor de aproximadamente 2012) as pessoas recebiam dinheiro por seus serviços, e foi assim que resolveu entrar no famigerado mercado de trabalho, com roupas doadas por um albergue.
Nada do que nosso imigrante temporal tentou deu certo. Não conseguiu trabalho nas indústrias porque tinha medo das máquinas; do comércio foi despedido pois vendeu fiado e ninguém pagou; dizem que também tentou ser político, mas sua honestidade quase o cortou fora (literalmente falando).
O único lugar, mas o único mesmo, em que nosso protagonista se sentiu em casa foi... Acertou quem respondeu ESCOLA. E por quê raios uma pessoa trazida há 500 anos do passado se deu muito bem como professor, enquanto falhou em diversas outras carreiras profissionais? Seria essa sua verdadeira vocação, “o chamado irrecusável do saber”?
Alguns dizem que isso foi obra de um caprichoso Destino, mas os céticos apontam que a verdadeira razão é a seguinte: praticamente todos os setores da nossa sociedade sofreram modificações nos últimos séculos a ponto de se tornarem praticamente irreconhecíveis, MENOS A ESCOLA!
Pare um pouco para pensar: os processos de ensino utilizados no dia-a-dia nas salas de aula são praticamente os mesmos desde que a escola foi inventada!
A escola sempre foi composta por: 1) alguém para falar e ensinar 2) alguém para ouvir e aprender 3) repita isso durante doze anos e depois dê um diploma ao aluno.
E por qual motivo esse modelo está praticamente inalterado? Por que é eficiente? Por que é o melhor para o processo de ensino? NÃO! Esse modelo continua simplesmente porque é o mais cômodo, porque nesse modelo o sucesso ou o fracasso pode ser jogado nas costas do professor, sem que haja conseqüências para os demais envolvidos (alunos, pais, Ministério da Educação...).
O personagem da nossa estória (sic) não usou nenhuma interação com o computador em suas aulas, mas até aí diversos professores formados no século 21 também não utilizam; nosso professor não tratava nenhum de seus alunos com educação e respeito, mas até aí diversos professores em 2012 dizem que aluno deve ser tratado na base da “patada”; nosso personagem dificultava ao máximo a vida dos alunos, dava provas de 20 questões sem consulta e com 40 minutos para responder, não aceitava trabalhos atrasados e outras atitudes que diversos professores tomam diariamente na sala de aula.
E essa, meus caros “telespectadores”, é a situação atual da educação pública no Brasil. O sistema está valorizando os alunos indisciplinados e irresponsáveis, a saúde do professor está indo de mal a pior, e os pais estão cada vez mais distantes da escolas dos seus filhos.
Não vou indicar aqui soluções mágicas para os problemas já levantados, mas se não fizermos nada a situação ainda vai piorar ainda mais...
Frase para de caminhão para reflexão:
“A chave para o sucesso dos cruéis é o silêncio dos inocentes”
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